quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ciência (???)

ciência (tão pura mas não virgem )

genética
fétida
esquelética
atlética
...

é tempo de dias nascerem sorrindo
é tempo de música
de escolhas

em toda janela tem bandeira hasteada
será janeiro mais uma vez

(marco inventado com efeito previamente calculado)

Atrás de toda cortina
vida e morte dançam apaixonadas
(olhos fechados)
sonham sonho puído
roto de tão sonhado

sábado, 25 de dezembro de 2010

QUANDO É NATAL

Burburinho constante
Cantoria
Gargalhada...Tudo de bom

Mas,tem um lance (acho que de sorte)
essencial

é quando no natal

tem pai

tem mãe

presentes

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

SABÁTICO

Sete dias, apenas sete dias de Ilhéus.
Uma breve interrupção da rotina para entrar em outro espaço.
Um espaço que foi preenchido com a natureza exuberante de mar e de mata atlântica e com pessoas incríveis, simples,lindas e carinhosas.
Acho que apreendi um pouco da calma baiana.

VOLTAREI!!!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Encontro

Encontro a flor que viceja
mas só em terra sertaneja...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Toda manhã é assim...

Tomo café que vem acompanhado de tapioca e banana da serra
o que não se repete nunca é o mar que tenho diante de mim

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Overdose

Estou bêbada

de ar

de sol

e de mar

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Então...

Mais um dia em que acordo antes da Bahia

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O tempo

A vida a passar
A criança a ficar

O corpo a doer
O coração a sonhar

Ah! O dia, gentil, vai nascer
Só pra noite se deitar

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Então...

tem dia que eu ligo tem dia que eu não ligo tem noite que eu não durmo

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Colheita

O afeto que existe (insiste)

promete um silêncio doce a cobrir você

Antes que o mundo o obrigue
como quem toca em pétalas de rosas
Colherá o teu descanso e o teu descaso

E o imenso vazio há de arrefecer

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sentimento desgovernado

obra tinhosa nascida do acaso do descuido do descaso
erva daninha vinda de mim à revelia
de combinação com o medo com o demo
me rasga a carne me cala a boca
enfrenta a realidade e a hipocrisia
sem fé sem chance sem chão sem poesia
mais fácil matar deus que estancar a agonia
veia que seca coração que não se vexa
espero o fim da tarde
para que tal e qual
nuvem densa
nuvem negra
nuvem espessa
murche
murche
...che
...he
...e
...

escrever no vento ao vento

O vento no cruzamento
me acerta o rosto

o ar fresco e repentino
impõe lembrança e desgosto

fica na boca e no asfalto
um gosto doce do passado

sábado, 13 de novembro de 2010

Quem é de quem?

Olho os dados
Penso nas probabilidades
O incerto me ronda
O universo me sonda
A angústia me cobre

A flor era amarela
A pintura dentro da aquarela

A onda
Redonda
Assombra
da sombra

Versos tão castigados
Fustigados
Subjugados

Só porque a dor não se exprime
Não se revela
Não quer aquarela
é sequela de uma flor amarela

O mar também marejado
onda
sonda
ronda
assombra
e chora

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Ponto de partida

Ando atrás de uma alegria

que me roube das tardes a agonia

Pode ser passageira

Mas tem que ser ponto de partida

Para um riso novo

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Transitoriedade

Uma mão caminha na contramão
Desenha seu traço no papel da história,
que, triste, insiste e chora
pois sabe que é drama sem enredo
e o seu destino (menino),
página virada

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Decálogo - Bertrand Russel

1.Não tenhas certeza absoluta de nada.

2.Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.

3.Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso.

4.Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.

5.Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.

6.Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.

7.Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.

8.Encontres mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.

9.Sê escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la.

10.Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

EMPATIA

Como quem pensa adivinhar a obra pelo dorso do livro

E entender o choque das nuvens ao ouvir o ruído bom da chuva

Aqueles olhos pensavam sabê-la de cor

Mas longe dali

no centro da trama

A dor e o drama

enredavam-se

alheios

nas páginas da vida

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Trovas ensinadas por Dona Êlo

"Eu tenho uma dô, seu dotô,
que quando me dá, seu Vidá
eu fico, seu Chico,
de uma maneira, seu Teixeira,
que é só deitado, seu Machado!"

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Refúgio

havia um lugar ao meu alcance

onde existia segredo

mas não medo

Lá o afeto se deixava prender

livre por alguns instantes

feito abraço apertado

e nada mais era como antes

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Fresta (Fernando Pessoa)

Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,
Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado
Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.

domingo, 17 de outubro de 2010

Era assim

Um tumulto
Uma cadeirante circunstancial
Uma voz a suprir a limitação daquelas pernas sempre ágeis
Um ajudante a adivinhar qual o trajeto de seus desejos
E assim, Maria, Maria, Maria
Comandava como nunca!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

...

O que dizer diante da vida se até a primavera me chega rigorosa e fria como o inverno?

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Disparada - GV

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos
Que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ESPAÇO

na avenida (florida)de minha mente
repousam (dementes)palavras e perfumes

terça-feira, 5 de outubro de 2010

influência

Hoje quero ser café com leite

domingo, 3 de outubro de 2010

Dia de votar

" 100governo100regras100controle" o povo procura por números de candidatos na boca da seção eleitoral. Não tinham a cola, e dentro da escola, procuravam por regras e pelo caminho.

nas imediações tinha polícia, tinha fiscal, tinha tensão, tinha prazer.

na sala de votação tinha insegurança e a imbatível esperança.

sábado, 2 de outubro de 2010

Killing ...

Strumming my pain with his fingers
Singing my life with his words
Killing me softly with his song


I heard he sang a good song, I heard he had a style
And so I came to see him, and listen for a while
And there he was, this young boy, a stranger to my eyes


I felt all flushed with fever, embarrassed by the crowd
I felt he found my letters, and read each one out loud
I prayed that he would finish, but he just kept right on


He sang as if he knew me, and all my dark despair
He kept on looking right through me as if I wasn't there
And then he kept on singing, singing clear and strong

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Aterrissagem

Enquanto a vida me olha de muito longe
Solto no ar a nostalgia que me visita

Um vento frio me vem sorrindo
(rouba os meus sentidos)

Por um instante meus segredos
ficam suspensos na paisagem
e antes que eu possa guardá-los
aterrissam calados no horizonte

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ou isso ou isso

Risco (páginas em branco deste dia)

Penso (o risco)

Arrisco e decifro o que rabisco?

(ou é dor ou é dor)

Num outro dia pego isto que cisco

e transformo tudo em pó de poesia

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lembranças

No quadro pintado por mãos infantis descubro um novo azul retratado e uma mancha de café

(o sinal da minha desordem me leva pra longe...)

Sinto saudades de um cigarro

e do volante de um carro

terça-feira, 14 de setembro de 2010

À sombra das moças em flor - Marcel Proust

... enquanto eu lhe expunha algo, conservava uma imobilidade fisionômica tão absoluta como se a gente estivesse falando diante de um busto antigo - e surdo - em uma gliptoteca.
Talvez por hábito profissional, talvez em virtude da tranquilidade que adquire todo homem importante a quem se pede conselho e que, sabendo que terá em mãos a direção da conversa, deixa o interlocutor se agitar, se esforçar, sofrer à vontade, talvez também para fazer valer os aspectos de sua cabeça (segundo ele grega, apesar das grandes suíças) ...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Quem sabe?

Um dia
Mais um dia
Só um outro dia?

Quem sabe?

Talvez, hoje, um bom dia venha
e me ofereça suas mãos leves
para uma dança de alegria

Quem sabe...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ovelha

Ainda ocupado, Senhor?
Ouça, há sangue neste silêncio
Recolhe este momento
Que é imenso e abraça a dor

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Minha História - Chico Buarque

Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente

Ele assim como veio partiu não se sabe pra onde
E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe
Esperando, parada, pregada na pedra do porto
Com seu único velho vestido cada dia mais curto

Quando enfim eu nasci minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se fosse assim uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré

Minha mãe não tardou a alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança
E não sei bem se por ironia ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor

Minha história é esse nome que ainda hoje carrego comigo
Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome Menino Jesus

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Jogo de cartas “Útil – Inútil”

Num repente, por trás dos panos da sinceridade, a sra. Utilidade!

Estava bem ali, vestida em panos bonitos
Exibindo ares nobres e laços de fita

Numa mesa de cartas marcadas,
Vi seus olhos frios de quem maneja, planeja
onisciente, onipresente, quase um deus.

Percebi que não havia vestígios de roubo
Era apenas um jogo
Onde se escolhia qual a carta a comprar
pois outra teria que descartar

Como quem investe
se veste
pra salvar a pele e ganhar o jogo

ela cantarolava nas páginas de um livro
uma cantiga de rima antiga

E no vento de seus movimentos
um som quase imperceptível
útil – inútil; compro - descarto
E isso tudo era só a minha vida

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

...

"Agora são dez horas e você pode ver como o mundo oscila; há uma hora eram nove, dentro de uma hora serão onze; a cada hora que passa nós amadurecemos; a cada hora apodrecemos; nisso há toda uma história."

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

viagens mudam a minha rotina

Outras paisagens
outras pessoas
ora voando
ora guiando
de passageira
de companheira

ao mesmo tempo em que me cansa o corpo
faz um bem enorme a tudo o que dorme

terça-feira, 24 de agosto de 2010

PASSARIM - TOM JOBIM

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro partiu mas não pegou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Me diz o que eu faço da paixão?
Que me devora o coração..
Que me devora o coração..
Que me maltrata o coração..
Que me maltrata o coração..

E o mato que é bom, o fogo queimou
Cadê o fogo? A água apagou
E cadê a água? O boi bebeu
Cadê o amor? O gato comeu
E a cinza se espalhou
E a chuva carregou
Cadê meu amor que o vento levou?
(Passarim quis pousar, não deu, voou)

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração..
Que me alegrava o coração..
Que iluminava o coração..
Que iluminava a escuridão..

Cadê meu caminho? A água levou
Cadê meu rastro? A chuva apagou
E a minha casa? O rio carregou
E o meu amor me abandonou
Voou, voou, voou
Voou, voou, voou
E passou o tempo e o vento levou

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta então, me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração..
Que me alegrava o coração..
Que iluminava o coração..
Que iluminava a escuridão..
E a luz da manhã? O dia queimou
Cadê o dia? Envelheceu
E a tarde caiu e o sol morreu
E de repente escureceu
E a lua, então, brilhou
Depois sumiu no breu
E ficou tão frio que amanheceu
(Passarim quis pousar, não deu, voou)
Passarim quis pousar não deu
Voou, voou, voou, voou, voou

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

NINAR

Vejo numa frase musical
o abismo entre geografias

Dentro do violão está a canção

Ouça: meus dedos choram acordes dissonantes

“Durma, menino, durma”
Eu fico aqui impedindo os barulhos do mundo

A viagem é ultrassônica e nossos planetas desiguais

sábado, 21 de agosto de 2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

LIVRO

Estou precisando de mudança

Bem que podia surgir

mais um livro em minhas mãos

dos bons...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

INSÔNIA

Após virar-se pra lá e pra cá, identificara mais uma vez a insônia (ultimamente visita insistente).

Era sempre assim, um desconforto, uma falta de jeito, um sabe-se lá o quê até que identificasse a real situação no quarto escuro.

Aquela madrugada não seria diferente. Mais uma vez um monstro do tamanho do universo ali, cara a cara. Sabia de antemão que teria que, feito um bezerro desmamado, encarar o vazio, entregue e sozinha.

Como deixara de acreditar em deuses sabia que nada alteraria em um milímetro aquela realidade, aquele instante de lucidez plena.

Vida morte morte vida rio pedra folha flor
no mesmo leito
com a mesma cor

Assim, abandonara-se, deixando que o NADA a tomasse sem mais nenhum debate até que o sol invadisse o quarto e numa onda de calor anestesiasse seus sentidos para mais um dia de vida (?)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Do lado de cá - Lance de sorte?

Fragilizaram seu corpo
Sedaram suas angústias

A impotência me sorri como nunca

Trago asas quebradas que já não doem

O que grita o que fica
é o silêncio que a escuridão obriga

Pergunto: onde é que a loucura mais se avizinha, mais se estreita?

No Posto 1, na Ala 70 ou na fila de mães reféns?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Tevê

(Zeca Baleiro E Kléber Albuquerque)

Um filme na tevê
Um corpo no sofá
Um tempo pra moer
o vidro do olhar
E a vida a passar
A vida sempre a passar
Passar

Olhando a estrela azul
azul da cor do mar
Comédia comum
ou um drama vulgar
E a vida a passar
A vida sempre a passar
Passar

Comercial de xampu
Cerveja e celular
Modelos para crer (Mentiras para crer)
e credicard
A consumir a consumir
A consumir o olhar
O olhar

Olhando a estrela azul
Um quadro a cintilar
Vendendo ilusões
a quem não pode pagar
E a vida a passar
A vida sempre a passar
Passar

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

CONTINENTES

Viajando pelos poetas dos tempos idos e os de então
Descobri que quanto mais bela a poesia
mais triste o coração

O que pulsa solitário
Em todo continente
É poeta embalando
a dor que sente

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

APRENDER SIGNIFICA MUDAR

Desde os tempos de criança sinto prazer em aprender. Isso fez e ainda faz de mim alguém que muda muito. Já sofri com e por isso.

Hoje aprendi que não tinha como ser diferente e entendi o quanto isso é bom. Não fechar questão NUNCA é uma boa e aprender com a ciência, que anda mais viva do que nunca, é melhor ainda.

Ontem, como exemplo, aprendi a mexer num software novo e, paralelamente, fui chamada à reflexão sobre: por que gostamos das pessoas? Não conto agora a conclusão. Quem passar por aqui, se quiser pensar, pense e depois me conte.

Não querendo pensar também tá valendo. Oxigenar a mente nem sempre é fácil, apesar de ser ÓTIMO!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dois Pra Lá, Dois Pra Cá

Composição: João Bosco/Aldir Blanc

Sentindo o frio
Em minha alma
...

Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor...

Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
E não me perguntes mais...

A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias...

No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar...

Eu hoje, me embriagando
De wisky com guaraná
Ouvi tua voz murmurando
São dois prá lá
Dois pra cá...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

família...

que se vê
que assiste TV

que conta história
que lança semente

que mente
que grita
que sente

que ama
mas vai embora
que ora
mas chora

quinta-feira, 29 de julho de 2010

MEU MUNDO E NADA MAIS (Guilherme Arantes)

Não estou bem certo
Que ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

ENDORFINA (uma alternativa)

Se a vida doer corra

Antes que ela escorra

Faça a maior zorra

Depois morra

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O VAZIO

O VAZIO avassalador sequestrou a minha mente
E num repente me olhou de frente

Assustada saio a coletar alegrias fugidias
Na tentativa vã de amortecer o horror do nada

Em fuga penso num deus magnânimo
fazendo valer a minha corrida ou a luta da formiga

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Férias sem grana

Dez dias de férias e a opção é descansar.
Uma opção feita para o tamanho do meu bolso.

Hoje, vou ler.
Ontem caminhei.
Amanhã, vou deixar pra amanhã.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Isabela Inácio Francisco (meus netos)

Brincar de:

cantar Raul Seixas (gritando muiiiiiiiito)
inventar histórias
viajar (sem tirar os pés do chão)
e rir, mas rir muito

recheia a vida
enfeita o rosto

Amo-os antes agora e sempre

sábado, 17 de julho de 2010

SAPATO 36

Eu calço é 37
Meu pai me dá 36
Dói, mas no dia seguinte
Aperto meu pé outra vez
Eu aperto meu pé outra vez

Pai eu já tô crescidinho
Pague pra ver, que eu aposto
Vou escolher meu sapato
E andar do jeito que eu gosto

Por que cargas d'águas
Você acha que tem o direito
De afogar tudo aquilo que eu
Sinto em meu peito
Você só vai ter o respeito que quer
Na realidade
No dia em que você souber respeitar
A minha vontade
Meu pai
Meu pai

Pai já tô indo-me embora
Quero partir sem brigar
Pois eu já escolhi meu sapato
Que não vai mais me apertar

Pai já tô indo-me embora
Eu quero partir sem brigar
Já escolhi meu sapato
Que não vai mais me apertar (Êêêê)


Composição: Raul Seixas

terça-feira, 13 de julho de 2010

ESCONDE-ESCONDE

Segredo segredos

Rio brinco fujo

faço de conta

Séria Sigo

não digo

Escondo

domingo, 11 de julho de 2010

NUVEM NEGRA - DJAVAN

Não adianta me ver sorrir, espelho meu riso é seu
Eu estou ilhada.
Hoje não ligo a TV
Nem mesmo pra ver o jogo (jô)
Não vou sair, se ligarem, não estou.

Amanhã que vem
Nem bom dia eu vou dá
Se chegar alguém
A me pedir um favor
Eu não sei...

Tá dificil ser eu
Sem reclamar de tudo
Passa nuvem negra
Larga o dia
E vê se leva o mal que me arrasou
Pra que não faça sofrer mais ninguém

...

sábado, 10 de julho de 2010

SISMO e CISMO

Tenho a terra sob meus pés (meu destino é o fundo dela)
E uma janela enquadrando o meu olhar

Deslizo por meus abismos (cismo)

Sinto que vou colidir com a minha geografia (sismo)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Desempenho

Minhas notas nas provas da vida continuam fracas ou regulares. Raríssimas exceções, me aparecem alguns azuis pela frente.

Muito pouco a fazer.

Serra do luar

(composição Walter Franco)
...
Viver é afinar o instrumento
De dentro pra fora
De fora pra dentro
A toda hora, todo momento

...

Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Na quitanda

( Zeca Baleiro e André Bedurê)

Na quitanda tava eu ouvindo Miriam Makeba
Uma canção antiga

Na quitanda chorei eu ouvindo aquela cantiga
de saudade doída

Tinha ido eu na quitanda
Comprar cana fumo comida
Nego forro nessa quimbanda
Escravo da dor dessa vida

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Tem horas em que...

Ser contido
Ser polido
Ser adulto
Ser sensato
QUE SACO!!!!!!!!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Eu detesto coca light

Composição: Zeca Baleiro e Chico César

Eu detesto George Bush desde a guerra do Kwait
Não quero que tu te vás mas se tu queres ir vai-te
Quero adoçar minha sina que viver tá muito diet
Danação é cocaína mesmo quando chamam bright
Gosto de você menina mas detesto coca light

Gosto de sair à noite de tomar um biri night
Jurubeba tubaína Johnny Walker Black White
Me afogo na cangibrina caio no tatibitáti
Tomo cinco ou seis salinas feito fosse chocolate
Engulo até gasolina mas detesto coca light

Fazem da boate igreja da igreja fazem boate
Poem veneno na comida cicuta no abacate
Eu cuido da minha vida não sou boi que vai pra o abate
Podem cortar minha crina podem partir pra o ataque
Podem me esperar na esquina mas detesto coca light

Deus é o juiz do mundo ele apita o nosso embate
Nem Carlos Eugênio Simon nem José Roberto Wright
A partida não termina prorrogação e penálti
A torcida feminina dá o molho ao combate
Aprendo o que a vida ensina mas detesto coca light

Tolerância zero fome zero coca zero
No quartel do mundo eu sou o recruta zero
Quero quero tanta coisa
E só me dão o que não quero

segunda-feira, 5 de julho de 2010

COMEMORAÇÃO

Com direito a bolo, 92 velinhas, todos os amigos presentes e o pedido de um discurso, iniciaram a comemoração do seu aniversário.

Ela trazia o semblante elegante, a aparência calma. Com a voz quase firme, pediu silêncio, já não tinha mais a mesma potência vocal. Com o apoio de um microfone, iniciou o discurso...

Meus amigos, passei a vida querendo pegar a felicidade, nem que fosse pelo rabo, sem perceber que a corrida seria inglória. Cansei de me cansar e a danada, irônica que é, me permitiu apenas tocá-la, vez ou outra. Hoje, numa quietude forçada, percebo que ela gosta mesmo é de desprezo, não quer ser afagada por ninguém. Portanto, aquietem-se e ela vem.

Um dos filhos, único familiar presente, já que o asilo ficava distante numa cidade de difícil acesso, diz emocionado: é invejável a sua lucidez!

Ao que ela, sem movimentar a cabeça pra qualquer direção, responde:

Lucidez? Não, aqui não vivem lúcidos, aqui...

Sem terminar a frase, com ares de quem estava longe, distante, transformando aqueles segundos em horas e com um peso maior que o mundo, silenciara.

Passados aqueles instantes desconfortáveis, como se voltasse da própria vida, olhou demoradamente para os presentes e cortou o primeiro pedaço de bolo que, sorrindo, ofereceu para a sua gatinha que esperava acomodada no seu colo.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

COQUETEL MOLOTOV

(Que um camelo me leve pra onde existir água - aprendi com os homens azuis)

As paredes mais quietas que o normal, não porque queriam ouvir, temiam o suspense inexplicável que pairava. Se aquele suspense tivesse cheiro diriam que era o feminino (melhor aquietar-se).

No quarto lilás, hormônios adolescentes brincavam e, na algazarra infantil, confundiam tudo.

No quarto azul tinha ela, e nela, ah! nela, o maldito climatério se embandeirava.

A esperança escondia-se no banheiro, cheio de segredos, trancado a mil chaves. Assim que ela tomasse um banho tépido, não, ela não gostava de banhos tépidos, frouxos, tinha que ser quente, muito quente, podia mudar a história de um dia, daquele dia.

Os outros cômodos, incômodos com o que se passava ali, espremiam-se na tentativa de ouvir o som da água que caía. O ar denso e perfumado ia escapulir assim que a porta do banheiro se abrisse, de onde ela poderia sair saltitando até o quarto azul, ou gritando para o quarto lilás.

Parte da casa sentia haver um certo demérito com o que julgavam predileção do banheiro e mais ainda com o alumbramento que vivia no quarto azul, que inocente (?), provocava inveja em todos os outros ambientes. De ares sempre calmos, sempre a exibir-se. Palco de grandes concertos e vasta biblioteca.

A pobre sala, que em dia de paz ,era mais utilizada pela adolescente em função do computador, vivia solitária, pouquíssimas visitas.
Pra completar, uma cadela, ainda virgem, em pleno cio, latindo nervosa ante qualquer ruído.

Ambiente bombástico! Inchado, dolorido.

O que os móveis não entendiam, por mais calados que se fizessem, era por que tudo se repetia sempre, mas como tinham ouvido certa vez: é só deixar o fogo perto da estopa e o diabo vem e assopra.

Na noite anterior, ao deitar-se, ela, sentia o que pressentia na pulsação e na força daquele silêncio que escondia uma receita, velha conhecida. Estava mais cheia que a lua cheia.

O apartamento acordara às 6 horas com o toque do despertador, rotina e rotina, nada além.

A menina deixara seus rastros de desordem por onde passara depois de horas na internet. A desordem era a mesma de outros dias, mas naquele, tinha ares de afronta, de propósito, de intento.

A cadela, no cio, demarcara terreno no meio da sala, pobre sala. Tão ampla, mas tão abandonada.

As paredes do corredor temiam o trajeto que ela faria ao atravessá-lo, indo do quarto pra sala. Sabiam que aquilo não podia dar em águas calmas. A pressão arterial alcançaria o teto, o dia derramaria sangue, menstruaria. Ela tesa, cega, irascível, sem lógica, tomada pela histeria embarcaria na montanha russa enquanto suas carnes, músculos, ossos se partiriam e o líquido, mais inflamável, cobriria um alvo, qualquer alvo.

Mas, em todo caos, sempre uma saída. E, nesta história, a porta que liberta, seria um telefonema, ou um e-mail, marcado em negrito, acalmando as garras daquele dia.

Ela era capaz de lembrar cada palavra do último que recebera: o coração pulsa sangue, só, a alma não me existe. me adore com seu cérebro, é como eu amo você.

Assim fizera: ligara o computador vivendo a expectativa do jogador brasileiro na boca do gol (final da copa:Brasil X Argentina). Pra ela bastaria um bom dia, sem beijos de despedida, um bom dia e ponto. Enquanto olhava a caixa de entrada de mensagens buscava condescendência em alguma lacuna, já que só sabia viver em lacunas e nunca em certezas.

Não tinha e-mail, não houve telefonema. Esperou uma hora, duas horas, eis que na terceira, EXPLODIU!!!!!!!!! Seu último pensamento lúcido foi Ismália (Alphonsus de Guimarães).

O surto começou com ela rasgando as vestes, já nua, arrancou a coleira da cachorra, e, sem titubear, abriu a porta do apartamento e aos gritos clamava: meu cérebro afeta meu coração porque é nele que sinto as coisas, ele dóiiiiiiiiiiiii.

A cachorra, porta aberta, livre das paredes que a aprisionavam, corria, corria, corria, sem olhar pra trás. Um rastro de sangue marcava seus passos.

O primeiro humano a conseguir aproximar-se era um ser não temente, e como o diabo não é tão feio assim como se pinta, conseguiu segurá-la pedindo que acabasse com aquilo de bancar a desesperada. Fez isso esbofeteando-a. Havia aprendido isso em algum lugar, além do que sabia-se um sábio, superior. Fazia tudo com firmezas características. Nunca precisou de Deus.

As certezas dele a desnorteavam ainda mais e o seu grito já era primal, bestial: arranque meu cérebro, ele não funciona. O que dói em mim é o coração.

Ele, aos trancos, respondia: ah dói sim, mas tudo acontece no cérebro, sempre é nele.
[(haviam se encontrado, ele na porta de entrada, ela na de saída (da vida)].

Ele a repetir: tudo é cérebro, tudo é cérebro; Ela a gritar: mas é meu coração que está a sentir, a doer, e não meu cérebro; E ele: mas é no cérebro...

Enquanto isso, paredes e móveis quietos, tristes, tentavam avisar aquele homem sobre o que fazer naquelas crises, mas ele não tinha ouvidos para ouvir paredes e móveis, nem olhos para ver, apenas as próprias certezas.

Mesmo assim, abraçados num feixe, pensavam: vamos insistir, quem sabe ele sai uma única vez de suas vestes e, livre, sua alma, (não sabiam que ele não tinha alma), passa a ouvir os nossos segredos que estão escondidos no silêncio de tudo o que não foi dito. Como num mantra, em uníssono, diziam: leve-a para o quarto azul, coloque a música do Chico e, em suas mãos, um livro do Rilke. Isso a fará acalmar-se e parar de chorar e então, o sangue conseguirá fluir enquanto as lágrimas de sempre lavarão as suas faces transtornadas.

É sempre assim. Ela é assim: insana, demente, transparente, absolutamente impotente, não é preciso força nenhuma para detê-la.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Estou voltando, desta vez, com: ASSASSINATO PREMEDITADO (que medo rsrsrs)

Acima do bem e do mal te guardei, sim, mas escondi alguns segredos.
Deixei você pensar que era o perfume caro que me encantava
quando era você que eu respirava
Você, inocente liberto, com o mundo se atracava
enquanto, por máxima culpa, numa cela eu mergulhava.
Quanto mais eu me debatia, mais você proliferava.
Brotava na rua, em mãos entrelaçadas que sorriam.
No poeta, em versos que me engoliam.
No sono, em desejos que me consumiam.
Até na TV, em apelos banais que me comoviam
...
Diante de cada sol que nascia
inusitados juramentos eu fazia
Extirpá-lo-ia das entranhas, já que a luz do dia não te permitia!
Mas como um desvario, da razão você escapulia
Vencedor inocente, sem esforço, me destruía
Sem pejo ia me doendo
Das minhas lágrimas se regava, e por elas florescia.
Soube ferir com louvor e tripudiar com maestria.
DECIDI MATÁ-LO!!!
Expus ao mais alto risco o teu gosto
Trouxe-o do fundo à tona
Veio tímido, as faces rubras
A soberba do amor que a tudo resistia, massacrei-a
no mais imundo lodo
Dobrei seu dorso e, trêmula, entreguei-a
Nos teus olhos desconfiados
Em andrajos eu me via
Era caridade o que eu lia
No meu peito um barulho quase me traía
Gritava que era amor o que eu queria
Mais uma vez te enganei
No sacrifício do teu beijo, você cria, uma alma salvaria.
Bom e belo samaritano...
No sacrifício explícito que você cometia
Vinha o veneno que aquele amor mataria
Mas, disso, só eu sabia.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

FASES

Primeiro dei conselhos
depois dei as costas
A seguir dobrei os joelhos
embarquei em apostas
Agora é a hora
de dar um tempo

quarta-feira, 23 de junho de 2010

FRAGILE

Tem lua no céu – tem tristeza em seus olhos

Um pedaço de lua na boca da noite
acerta em cheio um resquício de mágoa

Frágil imagem - Frágil mágoa

Para onde se volta o seu rosto quando olhos sem norte
procuram a sorte dos seus?

Sábia a vida que aposta no tempo porque tudo se vai com o vento
num sopro de primavera

A semente que você lança agora
em algum momento acertará o flanco da terra
germinando um sonho ou vingando uma guerra

terça-feira, 22 de junho de 2010

REALIDADE

Não bato carteira
Mas bato cartão
Meu mundo é de fábrica
É de chão
É de fome
É de pão

domingo, 20 de junho de 2010

SE

Se a dor é lancinante
Se o afago é confortante
Sê vigilante

quinta-feira, 17 de junho de 2010

LEITURA

Uma máquina passeia sobre mim
tenta decifrar meus ossos
Sinto um pouco de medo
Olho pro teto, branco, quieto...
Leio no seu silêncio: és mortal!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

MANHÃS

Um vento a empurrar as horas do dia
faz da manhã fria o quadro que eu não queria
Não sei se o que bate no meu rosto é nostalgia
ou lembrança do que está em agonia

segunda-feira, 14 de junho de 2010

LEMBRANÇAS APAGADAS

Para que a menina Clara pudesse respirar livremente era comum esconder-se em cima da casa, sobre o telhado da cozinha, tendo por escada a velha goaibeira do quintal vizinho, que desde cedo derramava todos os galhos para este lado do quintal.

A cerca de madeira, prestes a render-se, era o limite entre os dois quintais. Clara sabia exatamente em qual parte da cerca deveria apoiar-se para alcançar o primeiro galho até atingir aquele que serviria de escorregador levando-a até o telhado. Com agilidade felina, traçava os passos automaticamente e tão rápidos que mal se viam as etapas percorridas por seus pezinhos e mãos, que iam deixando suas marcas na árvore companheira.

Ao atingir o telhado era possível tocar em galhos de uma outra árvore, um pé de laranjeira, cujas folhas tenras ao serem mastigadas, antes de arderem, desprendiam um aroma doce e perfumado.

Nesses momentos a menina Clara suspirava profundo como se quisesse engolir a vida para vomitar uma explicação para o que sentia. Dessa forma, aprendera a “ viver pra dentro” , e era do telhado que sentia a sua alma suspensa, quase ao seu alcance. Seu espírito a empurrava para aquele lugar sempre que sentia um vazio, uma fome.

Os pais de Clara, humildes e honestos, sobrando-lhes poucas chances de exercerem outros adjetivos em suas vidas, viviam como a maioria das famílias pobres em uma cidade de interior, de pouquíssimos habitantes, mas de numerosos filhos. Nessa época, adolescentes não adolesciam, viviam cuidando das próprias feridas e engolindo o choro.

Clara não era a filha mais velha, nem a mais nova, era apenas uma entre muitos filhos. Sem conhecer afeto declarado, aprendera a recolher-se. (Um dia seria diferente e tudo valeria a pena). O decantado futuro estava morando longe e um dia a alcançaria, mas não ali, naqueles dias em que a ordem tinha só a opção de ser seguida. Dias em que, se faltasse a energia elétrica era dia do lampião a gás, se fizesse frio era dia de fogueira acesa no chão da cozinha, se faltasse comida (sempre pouca para tantas bocas), era dia da pensão da dona Maria, vez do sortido fazer parceria com a polenta e encher de alegria o estômago da família.

Clara não sabia como aprendera a ler, a fazer crochê, a jogar baralho, mas sabia o quanto sofrera pra aprender a fumar. Horrível no começo, mas conseguira! Os fatos iam se perdendo em sua memória enquanto os aromas e sabores impregnavam-se naquela alma menina.

Da primeira vez em que entrara em uma igreja para assistir a uma missa, fizera xixi e por conta disso permanecera de joelhos, com vergonha de levantar-se. Mais tarde, na mesma igreja, ao assistir o primeiro casamento, tivera uma crise de choro compulsivo não conseguindo assistir ou entender a cerimônia nem a crise. Porém, nada dizia. Não havia reclamação. Não havia pergunta. Não havia resposta.

Em determinado momento juntara-se à família um gato preto que tinha o rabo mutilado como consequência de uma bomba que meninos colocaram no pobre bichano. A mãe de Clara cuidara do animal por razões nunca ditas. Passaram a chamá-lo de “gatão”. Quando, sem muitas explicações, mudaram-se daquela cidade, não se soube mais do bichano. A menina só se dera conta da ausência do gato depois de adulta, depois de velha.

Nessa história as mortes vieram trágicas, naturais, insuportáveis, dolorosas. Quando foi a vez de perder a mãe, Clara perdeu o chão: mães quando se vão nos levam o chão. Ao receber o primeiro abraço de consolo não suportara o calor que invadiu seu corpo, perdera os sentidos ( não fora acostumada a abraços). Ao voltar a si, sentindo um aroma conhecido, ouvira uma voz a dizer: “ tome este chá, vai sentir-se melhor”.

Antes de abrir os olhos Clara decidiu que ficaria assim por mais um tempo, queria esquecer a cara da morte na cara da mãe. Então, saboreando as lembranças lançadas pelo aroma, suspirou bem fundo e, numa epifania, viu a sua alma a lhe sorrir enquanto afagava um gato distinto e preto.

sábado, 12 de junho de 2010

PRESENTE GREGO

Ganhei um presente grego que não é de grego

sexta-feira, 11 de junho de 2010

NÁUFRAGO

Por mais que eu pense e tente
Vem você com os mesmos dentes
Me sabendo única sobrevivente

Entra com a sutileza da sombra
E com faca amolada cortando onda
Mata e mata mil vezes e mata de novo

Frágil me levanto e juro e canto
A alma se rasgando em pranto
Que o tempo cubra com o seu manto
O amor que te tenho porque é santo

quinta-feira, 10 de junho de 2010

CRIME CULPOSO

Lágrimas perdem o sentido
mas não a força
Caem indomáveis, indolentes

O que teria faltado?
Reza? Visgo? Cor?
O destino trilhava a dor?

Tudo pode ser pecado
Tudo pode ser julgado

A pena, sem litígio,
é mais pesada.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Enquanto Durmo - Zélia Duncan

...

De longe parece mais fácil
Frágil é se aproximar
Mas eu chego, eu cobro
Eu dobro teus conselhos
Não me salvo
Porque não me acho
Não me acalmo
Porque não me vejo
Percebo até
Mas desaconselho...

...

terça-feira, 8 de junho de 2010

MAL NENHUM (Arnaldo Antunes - Comp Cazuza/Lobão)

Nunca viram ninguém triste?
Por que não me deixam em paz?
As guerras são todas tão tristes
E não tem nada de mais.

Me deixem bicho acuado
Por um inimigo imaginário
A correr atrás dos carros
Como um cachorro otário

Me deixem ataque equivocado
Por um falso alarme
Quebrando objetos inúteis
Como quem leva uma porrada

Me deixem esmurrar a faca
Amolar a faca cega da paixão
E dar tiros a esmo
Ferindo sempre o mesmo cego coração

Por isso não me escondam suas crianças
Nem me chame o síndico
Não me chame a polícia
Não me chame o hospício


Eu não posso causar mal nenhum
A não ser a mim mesmo,
A não ser a mim...

domingo, 6 de junho de 2010

POEMAS ANTIGOS

Falta tempo
Sobra espaço
Falta cultura
Sobra cansaço
Falta grana
Sobram sonhos
Faltam homens
Sobra(VA)m machos
...

Uma alma que tem tédio
Uma dor pra qual só existe um remédio

Este amor que abre as cortinas de fumaça
Que qual nuvem que passa
Me leva Me toma Me carrega

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um Trem Para As Estrelas (Cazuza e Gilberto Gil)

São sete horas da manhã
Vejo o Cristo da janela
O sol já apagou a sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas de pontos de ônibus
Procurando aonde ir

São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
E a esperança que eles têm
Nesse filme como extras
Todos querem se dar bem
Num trem para as estrelas

Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Estranho o teu Cristo Rio
Que olha tão longe além
Com os braços sempre abertos
Mas sem proteger ninguém

Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois

quarta-feira, 2 de junho de 2010

SEM RÉDEAS

A menina continua viva
(marcada em negrito)

Com as mãos sujas de tintas
trança com versos um açoite
quer laçar a lua pregada na noite
trazer a paz que não se revela
colada numa aquarela

segunda-feira, 31 de maio de 2010

BOM DIA...

Amanheço em plena segunda...

O que vejo?

Gente presa

Gente solta

Gente tesa

Gente louca

Em terapia

Sobre a pia

Em agonia

E eu esperando apenas um bom dia.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

PROCURA-SE

Preciso de um par
(há de ser tolo pra ser meu par)

Em cada encontro
(há de nos faltar tempo e sobrar assunto)

Rolaremos no campo da conversa
Abriremos as portas das nossas almas crianças
Que cuidarão de improvisar mímicas loucas e soltas
Vamos cuidar de rir até não poder mais
(rir de gente e principalmente da gente)

Em cada despedida

Um abraço no sossego
e a certeza de que a festa será em breve
e em qualquer lugar

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O ESCURO DA NOITE E A MINHA DOR

A noite em seu traje mais longo
Segue atenta à minha dor

Em trajes sumários,
minha dor vem suave, vem lenta,
cheira a ausências

Tem olhos presos no horizonte mudo
(prometendo tudo)
Olhos que esperam pela estrela cadente que há de passar
Nas mãos o coração dobrado em bilhete
No peito um desejo latente prontos para lhe entregar


Pouco se lhe dá
se o verso é excêntrico ou comezinho
se pueril ou se sozinho

Sabe apenas ser dor e que a tormenta vive no escuro da noite
antes de o dia se aproximar

terça-feira, 25 de maio de 2010

GENTE QUE SABE DA VIDA E O QUE DELA QUER

O frio me chega aos ossos
A agonia de agora é tão espessa que dela vejo a cor
(cor de fumaça)
Procuro alguém que me distraia até que este momento passe
Em sofrimento ouço uma voz a me dizer : "isso não é nada, vai passar"
Pra me convencer fico a repetir:
vai passar
vai passar
vai passar
vai passar
Em meio ao turbilhão tem uma outra voz ( mas essa só eu ouço)
fala baixinho, calma, doce feito gente que sabe da vida e o que dela quer, que diz:
Por que você foi inventar de parar de fumar?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

PIEGUICE REAL

Remexe cá dentro o que não se explica

Não posso mergulhar, fico na superfície.
(no fundo, sinto dor)

Cá em cima
eu rio
eu grito
Satirizo a vida e durmo cedo

Às vezes, preciso de um parque
de um caminho

Pra pano de fundo
Pego fundo

Livros, (quando gosto piro quero dividí-los)

Estrela, “a Estrela Dalva no céu desponta” (vivo procurando por ela no céu)

Lua, “...manda a tua luz prateada despertar a minha amada...” (me fascina)

Música, (viajar pra dentro, não sei se existe algo que eu possa amar mais que a música)

E mais livros...

E mais “lua linda”

A música me acolhe

O livro me desnuda...

sábado, 22 de maio de 2010

SÁBADO BALA!!! ANIVERSÁRIO TRIPLO

Só hoje três festas de aniversário, êbaaaaaaaaaa!

Durante o dia um almoço comemorando os nívers da Mazé (irmã) e da Ju (sobrinha).
Com uma galera dez passamos o dia conversando e rindo mais que tudo.
Em meio aos ruídos que fazem bem aos ouvidos e o entra e sai da casa, sempre acolhedora da Mazé, revivemos momentos cada vez mais raros.

À noite teremos a comemoração do níver da Su, amiga de muito tempo e mais uma vez teremos uma sessão de conversas e risos, agora entre amigos, mas com a aquela alegria especial que sempre se renova no encontro entre pessoas que se amam.

Felicidade também é isso!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

OLHAR

Quando aquela tristeza infinita me visita

fico sem saber se estou olhando a vida

ou é a vida que me olha

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Niels Lyhne

"...Ela, porém, cansou-se de suspirar. A irritante inutilidade de suas lamentações levou-a ao ceticismo e à amargura; assim como certos devotos calcam aos pés a imagem de um santo quando ele não demonstra o seu poder, assim também ela escarneceu da poesia idolatrada, e perguntou-se ironicamente se, de fato, não acreditara que o pássaro dourado em breve surgiria no canteiro de pepinos ou que a caverna de Aladim estava para se abrir sob o assoalho da leiteria. Num acesso de cinismo infantil, divertiu-se em forçar a nota prosaica da existência, comparar a lua a um queijo fresco e as rosas a potes de pomada, em tudo isso experimentando a satisfação da vingança e, ao mesmo tempo, a sensação meio inquietante e meio excitante da blasfêmia."

quarta-feira, 19 de maio de 2010

VADIAS

O telefone toca e a voz gentil que ouço é da mocinha informando que minha conta entrou no vermelho .

Por instantes me calo, paro meus olhos na telinha por onde desfilam as caras mal-lavadas, mas bem-vestidas, trôpegas na
moral, mas muito bem-calçadas (duplamente, triplamente), das vadias do Sistema.

A podridão exala, porém, seus odores fétidos são disfarçados em perfumes caros. Elas, as vadias do Sistema, são como
viúvas elitizadas, não esperneiam, não gritam.

Apenas desfilam vestes caras e negras, óculos caros e escuros e silêncios blindados e muito bem-ensaiados.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

DIRIGINDO E CURTINDO MUITOOOOOOOOOO

parcerias
Faço uma troca com o dia
olho pra ele e ganho em poesia
é possível até acreditar
que ele me sentia


pinturas

Num céu pincelado de outono
peço licença ao mundo
precisamos ficar a sós

viagem mental , viagem astral , viagem literal

fim de dia , longa estrada ,
céu de outono pintado de sol se pondo
voz da Amy no rádio e uma outra ao telefone


arco-íris

Céu que brinca , quando pinta o sete

sexta-feira, 14 de maio de 2010

DESCOMPASSO

Tempo de dar um tempo

sair de cena bem devagarinho

se esconder no ninho

até poder emergir

e acertar a cadência

da dança que balança

a vida

terça-feira, 11 de maio de 2010

AZUL E ROSA (A Letícia gosta)

O menino que brincava
sorrindo mentiu
a menina que sonhava
de olhos fechados caiu

Ele sabe correr e não teme a vida
Ela tenta se igualar mas está ferida

segunda-feira, 10 de maio de 2010

VI, NÃO VI

Outro dia
Vi a cor do céu
Quando o sol morria

No infinito que havia
Descobri você
Aonde não devia

Você não conseguiu me amar
E nem ver a lua que eu via

sábado, 8 de maio de 2010

Hoje simplesmente invejando, copiando - quero "galetear" Saramago - como é bom!

"... As palavras são assim, disfarçam muito, vão se juntando umas com as outras, parece que não sabem aonde querem ir, e de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjetivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos, às vezes são os nervos que não podem aguentar mais, suportaram muito, suportaram tudo, era como se levassem uma armadura, diz-se. A mulher do médico tem nervos de aço, e afinal a mulher do médico está desfeita em lágrimas por obra de um pronome pessoal, de um advérbio, de um verbo,de um adjetivo, meras categorias gramaticais, meros designativos, como o são igualmente as duas mulheres mais, as outras pronomes indefinidos, também eles chorosos, que se abraçam à da oração completa, três graças nuas sob a chuva que cai..." (Ensaiosobreacegueira - 267)

Volta e meia, um verso dele, que terá me atingido em cheio, será trazido pra cá, para "galetearmos" essa delícia que é esse filho de Portugal.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

VALEI-ME ZECA BALEIRO! (o mundo está blue)

É quando a semana se finda e a tarde se entrega
que a solidão vira mundo
solo vasto solo falso solo fundo

No escuro de mim
Arrepio o sentido
Desequilibro
Me ponho a voar

Voo longo Vou ao centro Voo dentro
Quando bem longe eu me acho
Me ponho a chorar

Sem pai nem mãe tampouco
Grito mudo grito surdo grito louco
Quem virá me sublimar?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Então, ninguém me via

Na janela ao lado uma mulher me sonda
De dentro uma outra me ronda
De fora outra aflora

ouço o infinito
e as mulheres que grito

inocentes prematuras
adolescentes inaturas
adultas imaturas

os santos nem sempre me acham

Arrisco um chocolate
hummm, boa esta idéia, como dois