sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O azul

Eu moro no sul
Não tenho síndico
Meu blog é azul
Meu quarto é índigo

Eu sou blue

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Água que desaba

o céu desabando

gente deslizando

e eu idealizando

meus sonhos escapam da sarjeta

socorro, acabem comigo!!!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cigarro - Zeca Balero - foi bom revê-lo cantando algumas músicas por mim preferidas...

A solidão é meu cigarro
Não sei de nada e não sou de ninguém
Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver, meu bem

Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém
Minha canção é meu socorro
Se o mar virar sertão, o que é que tem?

Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu

O amor é pedra no abismo
A meio-passo entre o mal e o bem
Com meus botões à noite cismo
Pra que os trilhos, se não passa o trem?

Os mortos sabem mais que os vivos
Sabem o gosto que a morte tem
Pra rir tem todos os motivos
Os seus segredos vão contar a quem

domingo, 23 de janeiro de 2011

Só isso...

Não preciso agora
de alguém que me indique
uma jóia da Tiffany

Basta alguém comigo à mesa
antes da sobremesa
pra abrir o sachê de catchup

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

ESCREVER (?)

sobre telas em branco
sobre folhas virgens

Não reflito , sou um risco

(que se arrisca)

são vísceras o que vomito

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ACONCÁGUA

Fiquei sem lugar entre as ruas e as tantas coisas tuas
Primeiro aquele compromisso importante
havia também aquele relatório por terminar
A carta por fazer
O ano a começar
A imobiliária
O fim de um hábito
Uma entrevista
Um outro olhar
A sentinela de pedra a escalar
Por fim
um amplo espaço em mim
desocupado de você

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Flor de inverno

Amor Perfeito

No canteiro

Na calçada

No estreito

Na estação

Dentro do peito

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Pitty

Deixara para trás o animalzinho mais nada, nem ninguém.

Carregava em suas mãos as chaves e o silêncio constrangedor daqueles olhos, daquele olhar

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O suor e a lágrima - Carlos Heitor Cony

Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o vôo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.

Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante.

O engraxate era gordo e estava com calor — o que me pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.

Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.

Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.

E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.

Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.

Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.


O texto acima foi publicado no jornal “Folha de São Paulo”, edição de 19/02/2001

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Trecho de O Filho Eterno:

"Ali está o pai com o filho idiota diante da fonoaudióloga. Quase esquece que também tem uma filha normal – mas crianças normais só precisam de água, que elas vão crescendo como couves.

(…) A criança não se concentra muito, diz a fonoaudióloga, e ele se afasta dali quase arrastando o filho, e no corredor sente o olhar agudo dos outros para o pai que leva aos trancos uma pequena vergonha nas mãos, incapaz de repetir duas ou três palavras numa sentença simples. (E no entanto a criança abraça-o com uma entrega física quase absoluta, como quem se larga nas mãos da natureza e fecha os olhos.)"

Cristovão Tezza

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eu queria ser...

a mulher que passa de sombrinha sob sol escaldante

pisando estrada de chão batido

com muita poeira provocada pelos ventos

mas nunca pelos próprios pensamentos

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ano Novo

"... é dentro de você que o ano novo cochila e espera desde sempre..." (Drumond)