quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Natureza

Natureza de beleza



de crueza



que mata a fome



que mata a mata



Natureza que sublima



que ensina que é sina



mãe da vida mãe da morte.





A sabiá que não conseguia ainda voar



Caiu de seu ninho de passarinho





Seu corpo sua penugem



Cobertos agora pelo vento pela chuva



Oferecia o espetáculo do voo derrubado



Do corpo aviltado





Era o fim inevitável fim



a morte inevitável morte



Rainha reinando sob o sol e a sombra



ao lado de homens



de pássaros



De homens pássaros



De minhocas e de mães



De flores e de cães

Nada a fazer, a não ser....

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

a tristeza enjoa

as mesmas meias rendadas a mesma roupa justa e curta só o braço que abraçava era de outro par
eu a olhava com medo de que me descobrisse me xingasse mas eu não conseguia desviar o olhar
em alguns dias ela mostrava-se bêbeda noutras confidente de outra ou de outro que lhe entregasse não o braço mas o ouvido...
a vida prática na prática não era prática

domingo, 11 de dezembro de 2011

Nova Postagem

Editar uma nova postagem era tudo o que eu carecia

mas não parava de pensar nas tribos e no sentido da alegria

pensamentos cada vez mais tolos e infantis me invadiam

E eu parei bem na porta de entrada daquele dia

sábado, 19 de novembro de 2011

o ceu sob outro ponto de vista

emergir emergir emergir emergir
subir subir subir subir subir
abraçar a beira mar e na areia repousar meu novo ponto de vista
por muito tempo assim ficar entre areia e ceu meu verdadeiro teto meu verdadeiro olhar
quando tudo mudar de cor e o negro reinar negro negro negro negro como eu cá dentro
as estrelas, todas as estrelas, muitas estrelas, um montão de estrelas que carrego, vão me levantar e... de pés fincados na areia olhos abertos bem abertos serei tudo o que sei de ceu de mar e de como era o seu olhar

domingo, 13 de novembro de 2011

MEU QUERIDO NADA

Acordei meio assim... meio não sabendo apenas vendo o NADA imenso

Como num jogo aparece sempre e de novo

Vem em onda que me ronda me sonda

Depois me alcança,abraça, me devolve e se lança

Por que não se cansa e nos faz pra sempre UM?

domingo, 30 de outubro de 2011

juízo de valor

Escuridões

clarões

senões

arestas

serestas

fatos e frestas

dor

vida

morte

e festa

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Shadows on the hills



era simples assim
pintura de Vincent
poesia de Don Maclean

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Margem que tange

Ela vinha arrastando um pé ferido e por conta a alma fora de prumo

trazia o ombro marcado por uma tatuagem mal feita

espelhando nitidamente uma tangente da vida

sábado, 8 de outubro de 2011

Round

Na antessala de alguns dias
(daqueles que vêm à revelia)
espero a noite que se anuncia

O veludo do silêncio escuro
amortece a luta... anestesia

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Simples assim...(?)

Se franzo o senho

É porque algo me é estranho

Então, calo


Se baixo os olhos

É porque estou cá dentro

De cá, não vejo


Se ouço um grito

De medo... Hesito


Mas, se uma manhã (de sol e de brisa) me visita... Hummm

lembro de vida
de riso
e de fita

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cenas ardentes ... Eu vi

Não fosse em Curitiba e o sol estaria a pino porque eram horas de dia pleno.

É um tempo em que o frio é intenso. Ando às pressas, completamente absorta em meus pensamentos,quando uma cena me resgata.

Um homem apoiava o corpo bêbado na parede enquanto uma mulher grudava as suas partes pudendas. Ele tinha além do corpo os ares também bêbedos e nem sei se percebia o gesto proibido ou mesmo se sentia os efeitos que seriam naturais daquela "pegada".

Por que o gesto causava constrangimento?

Se o local tocado fosse o braço não causaria embaraço, mas no saco????

Afff!!! Um estardalhaço.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Devaneio bem no meio...


O taxista me briga o político me beija

explicações, senões, dúvidas...estas da secretária magra de crinas longas de longas crinas

vermelho e gigante e expresso o ônibus agride o boneco que é verde e eu atravesso sigo sem medo por que acredito...

nunca sei se é lua tardia ou sol sob neblina

não aprendi geografia astronomia filosofia



Assisto ao rito, homens guardando homens,enfileirados ensimesmados

Ah! Eu só fui atrás de assinaturas... compra de um jato, só um avião.

alguém suicidou-se há muito tempo e eu sabia mas não sabia que o que eu sentia não era só sentido era um risco a virar fato.

Na placa no trânsito no devaneio meus olhos lêem Santa Gertrudes ...SP

O secretário bonito bem vestido bem perfumado me pede desculpas me beija e assina assina assina rubrica rubrica vias vias e vias

Tenho sido mais feliz na cadeira do dentista

De pernas e escrita tortas navego remo arrasto

Lavo o dorso das mãos com lágrimas

deixo um rastro de riso por onde passo

sem deus sem chance vidente temente descrente

nem na TV que assisto tenho visto tanta dor tanto cinza

A mulher da faxina me ensina

existe um caminho sob o caracol

Minha tristeza tem colo quente

E nele eu choro sem razão

mais uma vez o vermelhão

o boneco antes verde cintila vermelho

me levaram tom jobim



segunda-feira, 25 de julho de 2011

TABACARIA - ÁLVARO DE CAMPOS

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.

0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dia do Amigo

Encontrei pela estrada sinuosa uma galera da pesada

marciajulietatâniarafarafaelsandradudujoãojoãoluiz
joséfranciscoinácioisabelaandréiadiogohelodjrauladriana
celitaletíciarobsonpedroladierdirceumariasmarianasluisasanasluciassergioilvalapacris

irmãos de sangue de fé de falta de sobra de sempre de tudo

obrigada pela amizade mas mais ainda pelo olhar, sobretudo pelo olhar.

Um beijo

sexta-feira, 8 de julho de 2011

MEIO

8h30 - 0 horário marcado - Não durmo, antecipo tudo!
Na rua dou voltas, arrisco um café. Faz muito frio e é cedo ainda. Com uma antecedência aceitável chego no local marcado.

Na antessala estou só, tiro de dentro da minha bolsa o solilóquios de santo agostinho, me canso dele e decido pela revista solitária que mora num canto qualquer daquele lugar. Leio, leio, me enleio. Na última página me encontro com uma crônica do Mazza sobre: Curitiba na ternura mas também no furor. A história, ali depositada, sabe-se lá por que cargas d’água tem a ver com a minha vida ou apenas com algum momento... (Talvez nem tenha).

Tento cessar meus pensamentos que agora recaem sobre o sol que não se põe e que também não nasce, só sabe fazer brilhar ininterruptamente, no entanto, vivemos assistindo ao falso espetáculo diariamente.
Estou assim, solta no espaço da sala dos meus pensamentos, quando me vem um desejo de mutilar a revista, arrancando a página com aquela crônica (isso é roubo??? )

O silêncio da sala acaba quando pessoas (normais) chegam para o dia de trabalho. Passam por mim, várias delas, sem me verem. Chega, também, um grupo que agora divide espaço comigo e pelo que ouço a reunião é, também, para às 8h30, e adivinhem? Sou preterida!

Minha respiração, cansada da noite insone, vem lenta e profunda, mas eu a ouço.

Foi assim que, meio poeta, meio executiva, meio delinquente, e no meio do caminho, às 9h30, entro na reunião cheia de coragem e com uma vontade imensa de acordar meus brios, de mudar os rumos, mas, no meio de tudo eu não saio mais: voltei a trabalhar!
06.07.2011

terça-feira, 28 de junho de 2011

passado e presente

O poeta viveu meu corpo de dor em outras eras

agora sou eu a sentir o mesmo sem-vontade

com que rasgou o ventre a mãe

Tal e qual o que também quero

é não acompanhar ninguém

Eu sou o outrora do poeta que aflora

eu grito nãoooooooooooooo no tempo a esse agora

terça-feira, 14 de junho de 2011

Outono de 2011

As manhãs de outono, aquelas frias e com vento, ao baterem no meu rosto, trazem consigo algo mais que a nostalgia de outrora.

Chegam acompanhada de riscos para a minha saúde física, apesar de manterem o mesmo imenso benefício ao meu ser interior.

Foram tantos outonos e outras tantas manhãs e tantos ventos a me visitar a face que a minha paisagem mudou.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Veja a seguir...

O amor silencioso no agora

na morte grita e chora

sábado, 4 de junho de 2011

Vida e morte

Podia ser um quadro triste, uma história inventada. Mas não, era a vida real que sangrava no colo da mãe ao segurar seu filho, ainda menino, pela última vez.

O seu corpo, agora mutilado de seu filho, seguirá anestesiado.

Fora vencida pelo crime!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O que é isso que chora em mim agora?

Coexisto entre a vida que pulsa insana

e a morte que ronda na linha do infinito

(meu olho suspeita e sonda)

Sou o pássaro no parque tomado de humanos

terça-feira, 17 de maio de 2011

Músculos e Grifes

Vivo um tempo em que sapos são sapos e gatas borralheiras são borralheiras.

Valores morais conciliando-se com finais felizes são os elementos cada vez mais frágeis e raros nos contos de fadas contemporâneos. (bem mais real isso...?)

Por falar nisso,temos quantos escritores criando contos de fadas? (Penso que perdi mais este bonde).

Os humanos transitam sedentos de beleza física. As suas fêmeas libertas enchem os olhos até a alma ao depararem com músculos e grifes - não podemos nos esquecer das grifes - Uma boa grife é o principal adorno para saciar os mais aparentes desejos da nossa raça.

Há bem pouco tempo víamos as bandeiras do conhecimento lá no alto, exultantes, fazendo par com a ética. Hoje, estão a meio pau, tal e qual um senil lutando para ficar em riste.

sábado, 14 de maio de 2011

Reverso

o príncipe veio lindo

mas titubeava

e antes que houvesse o beijo

cuidou de voltar a sapo

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Hoje...

escrevo, não ligo

me entrego, não sigo

invento, não digo

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Infinito particular - Marisa Monte

Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular

domingo, 8 de maio de 2011

Dia das Mães

(A minha não mais existe)

Eu ainda insisto

Talvez "ser mãe" seja isto!

Algo sem medida

Qualquer coisa de briga (contra os fatos as provas e o mundo)

Guerreira que se cansa

mas entra na dança

se a razão for a vida da cria

de quem cria

da comida bebida sorvida

Por isso, quando se vai, nos leva o chão que pisamos

(sentimos medo)

Mas encontramos no vão dos dias

um legado de sonhos que enfeitam a nossa história

e assim nós seguimos como se tivéssemos acabado de acordar

e o mundo nos vem num num abraço e sorri

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Meninas inexatas

As meninas que cantavam hinos ao SENHOR me fizeram esquecer o desconforto de um pé torcido e um calcanhar ferido.

Num repente, o meu sangue e a minha carne perderam a razão.

Aquelas meninas traziam nos olhos a anestesia para a minha dor e, enquanto dançavam equilibrando-se sobre sapatos maiores que os seus pés, desafiavam os meus abismos.

Elas sabiam que qualquer descuido sobre a corda bamba as levariam para o fundo obscuro de si mesmas.

Elas sabiam, eu não.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

é assim...

Tento viver pra fora mas as coisas de dentro me escapolem me atropelam

domingo, 17 de abril de 2011

Será?

O parque, os pássaros, um peixe, e o vento estavam inquietos.

Será que eles sabiam que era sexta-feira?...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Incompreensão

Não compreendera o texto Para isso bastaria mergulhar mais fundo Ali, bem ali, logo depois da aparência

terça-feira, 12 de abril de 2011

Momento

Na sala dos meus pensamentos um piano e mãos sem rima

Tento desenhar um novo poema sem amor sem tema

Mas no cerne do meu ser encontro um bêbado de dor

tropeçando no chão da minha história no verbo e na gramática

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Súplica Ceraense - Luiz Gonzaga

Oh! Deus,
perdoe esse pobre coitado,
que de joelhos rezou um bocado,
pedindo pra chuva cair,
cair sem parar.

Oh! Deus,
será que o senhor se zangou,
e é só por isso que o sol se arretirou,
fazendo cair toda chuva que há.

Oh! Senhor,
pedi pro sol se esconder um pouquinho,
pedi pra chover,
mas chover de mansinho,
pra ver se nascia uma planta,
uma planta no chão.

Oh! Meu Deus,
se eu não rezei direito,
a culpa é do sujeito,
desse pobre que nem sabe fazer a oração.

Meu Deus,
perdoe encher meus olhos d'água,
e ter-lhe pedido cheio de mágoa,
pro sol inclemente,
se arretirar, retirar.

Desculpe, pedir a toda hora,
pra chegar o inverno e agora,
o inferno queima o meu humilde Ceará.

Oh! Senhor,
pedi pro sol se esconder um pouquinho,
pedi pra chover,
mas chover de mansinho,
pra ver se nascia uma planta no chão,
planta no chão.

Violência demais,
chuva não tem mais,
corrupto demais,
política demais,
tristeza demais.
O interesse tem demais!

Violência demais,
fome demais,
falta demais,
promessa demais,
seca demais,
chuva não tem mais!

Lá no céu demais,
chuva tem,
tem, tem, não tem,
não pode tem,
é demais.

Pobreza demais,
como tem demais!(Falta demais),
é demais,
chuva não tem mais,
seca demais,
roubo demais,
povo sofre demais.
Oh! demais.

Oh! Deus.
Oh! Deus.
Só se tiver Deus.
Oh! Deus.
Oh! fome.
Oh! interesse demais,
falta demais...!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

TERRA

A Terra também é irregular...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Seguir é preciso



É preciso seguir

Seguir é preciso

terça-feira, 15 de março de 2011

Então...

O avesso do mundo tem entranhas tem estrias
O avesso do dia é escuro e estranho
da noite é claro e medonho
do homem é imenso e tacanho

Dormir é morrer por fora e revirar por dentro
Acordar é tomar café sem pagar a conta

quarta-feira, 2 de março de 2011

VIDA

Um blastocisto
Um ponto
Um cisto
Sem pai genético
Nem hipotético
um conto
num canto qualquer
Uma mulher
acima da linha do equador
Um som
um tom de dor
Sem Papai Noel
Tampouco Papai do Céu
A Vida não se resume
Vida não se resume
Não se resume
Se resume
Resume
Exume

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ideologia - Cazuza/Frejat

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato
Que eu nem acredito
Ah! eu nem acredito...

Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do "Grand Monde"...
Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs
Não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar
A conta do analista
Pra nunca mais
Ter que saber
Quem eu sou
Ah! saber quem eu sou..
Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Lança que lança que mata

Grito um grito
Lambo um risco
Mato um poema
Escondo-o no mato

Entrego às flores o sonho que sonho
que calam nas cores as dores que calo

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Rotina

trânsito
transito
sangue
rito

transe
transeunte
lembranças
um grito

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pedaços de uma história.. .

...O devaneio devaneia em mim, variável sem controle, nau perdida.

O Salvador não me acha.

Um pensamento me incomoda: já que não fui muito feliz no sorteio do mundo, que tal ser a mártir do final selado com o beijo longo e ardente?

Ou os presságios da boca do vidente?

Ou ainda, atirar-me no meio da igreja pra depositar meu lixo nas “mãos do Senhor” e meu dízimo nas “mãos do Pastor?”
...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Posso tudo (quase tudo)

Hoje escolho
divagar
não olhar
me calar

apreender lembranças
perfumes e palavras

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Tempo

É noite
A ovelha está perdida no vazio imenso
É hora de abraçar a negra cor

Ainda ocupado, Senhor?
Ouça, há sangue neste silêncio
Recolhe este momento que se veste de dor

É dia e o sol brilha
Alguém abre os olhos

É tarde
Perdeste, Senhor!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Eu quero

Palavras e sintagmas
escorrendo feito chuva

(O descalabro dos meus limites
estará surdo aos seus palpites)

E assim, alheia em mim, perdida enfim
farei jus ao nada
grande nada
imenso nada

Início
Meio
e Fim

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Realidade simples assim

Pra não me afogar no mar de pieguice
Escolho ser prática, olhar nos olhos do mundo
No encontro gratuito com um passarinho tenho outro ataque
e finalmente entendo o que é não ter correntes nem umbigo

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O azul

Eu moro no sul
Não tenho síndico
Meu blog é azul
Meu quarto é índigo

Eu sou blue

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Água que desaba

o céu desabando

gente deslizando

e eu idealizando

meus sonhos escapam da sarjeta

socorro, acabem comigo!!!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cigarro - Zeca Balero - foi bom revê-lo cantando algumas músicas por mim preferidas...

A solidão é meu cigarro
Não sei de nada e não sou de ninguém
Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver, meu bem

Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém
Minha canção é meu socorro
Se o mar virar sertão, o que é que tem?

Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu

O amor é pedra no abismo
A meio-passo entre o mal e o bem
Com meus botões à noite cismo
Pra que os trilhos, se não passa o trem?

Os mortos sabem mais que os vivos
Sabem o gosto que a morte tem
Pra rir tem todos os motivos
Os seus segredos vão contar a quem

domingo, 23 de janeiro de 2011

Só isso...

Não preciso agora
de alguém que me indique
uma jóia da Tiffany

Basta alguém comigo à mesa
antes da sobremesa
pra abrir o sachê de catchup

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

ESCREVER (?)

sobre telas em branco
sobre folhas virgens

Não reflito , sou um risco

(que se arrisca)

são vísceras o que vomito

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ACONCÁGUA

Fiquei sem lugar entre as ruas e as tantas coisas tuas
Primeiro aquele compromisso importante
havia também aquele relatório por terminar
A carta por fazer
O ano a começar
A imobiliária
O fim de um hábito
Uma entrevista
Um outro olhar
A sentinela de pedra a escalar
Por fim
um amplo espaço em mim
desocupado de você

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Flor de inverno

Amor Perfeito

No canteiro

Na calçada

No estreito

Na estação

Dentro do peito

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Pitty

Deixara para trás o animalzinho mais nada, nem ninguém.

Carregava em suas mãos as chaves e o silêncio constrangedor daqueles olhos, daquele olhar

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O suor e a lágrima - Carlos Heitor Cony

Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o vôo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.

Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante.

O engraxate era gordo e estava com calor — o que me pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.

Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.

Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.

E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.

Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.

Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.


O texto acima foi publicado no jornal “Folha de São Paulo”, edição de 19/02/2001

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Trecho de O Filho Eterno:

"Ali está o pai com o filho idiota diante da fonoaudióloga. Quase esquece que também tem uma filha normal – mas crianças normais só precisam de água, que elas vão crescendo como couves.

(…) A criança não se concentra muito, diz a fonoaudióloga, e ele se afasta dali quase arrastando o filho, e no corredor sente o olhar agudo dos outros para o pai que leva aos trancos uma pequena vergonha nas mãos, incapaz de repetir duas ou três palavras numa sentença simples. (E no entanto a criança abraça-o com uma entrega física quase absoluta, como quem se larga nas mãos da natureza e fecha os olhos.)"

Cristovão Tezza

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eu queria ser...

a mulher que passa de sombrinha sob sol escaldante

pisando estrada de chão batido

com muita poeira provocada pelos ventos

mas nunca pelos próprios pensamentos

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ano Novo

"... é dentro de você que o ano novo cochila e espera desde sempre..." (Drumond)